quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PENSAR NA MORTE, PARA QUÊ?

Acercamo-nos do Dia de Finados, mais uma vez. Faz algum sentido? Convém nos atermos aos que já partiram? Avós, pais, parentes, amigos... Até filhos que se foram precocemente! Tais lembranças trazem-nos lágrimas, mas remetem à nossa própria história de vida. Isso tem papel integrador, pois a identidade é formada a partir da família e do grupo social que nos deu origem.

Uma pesquisa recente demonstra que pensar na morte nos traz benefícios. No curso da existência, precisamos de pausas. Elas nos permitem questionar o valor que atribuímos aos fatos, o sentido que imprimimos a vida. Podemos assim melhor ordenar os compromissos e atividades; além de nos prepararmos para a partida e para eternidade. A ansiedade que habitualmente cerca tais reflexões será superada com a busca de uma fé esclarecida. (VAIL, Kenneth et al. When death is good for life. Personality & Social Psychology Review, 16(4): 303-29, 2012).

Alguns costumam visitar cemitérios. Afinal, foi ali que selamos nosso distanciamento das pessoas queridas que já se foram. Estamos vinculados ao tempo e ao espaço em nossa caminhada terrena. O choro pode vir espontâneo, acompanhando recordações tristes... E outras que são até benfazejas. Flores e velas soam supérfluas, como tentativas vãs de interferir na eternidade.

Orações são inevitáveis em tais ocasiões. Olhar para dentro de nós mesmos, sobretudo diante do momento extremo, faz ruir toda arrogância; e promove um movimento em direção ao transcendente. Mas, orar por quem? Os que partiram fizeram suas escolhas, que devem ser respeitadas. Se não tiveram oportunidades, isso lhes serviu de álibi na destinação eterna. Nós sim, ainda peregrinos, somos os beneficiados pelas preces, das quais carecemos intensamente.

Orar faz muito bem à saúde física e emocional. Mas para quem dirigimos nossos pedidos? Será isso indiferente? Por que evitar o Deus supremo (aquele tão infinitamente grande que é capaz ouvir-nos em nossa insignificância) e nos apegarmos a seres menores, figuras humanas ou elementos da natureza? Um deus pequeno nos apequena.

Mostra-se sempre atual a sugestão: “Memento mori”.

                                                                                                                                                                                                                                                     U.H. (Novembro/2012)

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