quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Face Oculta do Pastor


Eduardo Ribeiro Mundim


O primeiro “ataque” que o meu então conceito sobre o “ser pastor” sofreu foi da boca do meu “guru” da juventude, à época assessor da Aliança Bíblica Universitária: ser pastor é uma profissão como qualquer outra! Fim do meu romantismo.

O segundo “ataque” veio da boca de um querido pastor, a quem muito devo na minha caminhada de fé, e por isso celebrou meu casamento. Quando fui visitá-lo após uma cirurgia, disse-me: “a gente não tem muitos amigos entre os pastores”! Fim da minha ilusão.

Pastor está em baixa, no meio secular. Graças a diversos escândalos, são tidos pelos não cristãos, por manipuladores da crendice alheia, aproveitadores dos incautos, vendedores de ilusões.

No Corpo de Cristo não parece existir hierarquia (exceto na clara definição de Quem é O cabeça), mas membros que, em conjunto, operam para que o corpo cumpra sua função. Assim, são chamados mestres, apóstolos, evangelistas, diáconos, presbíteros, … (não parece ter sido intenção do apóstolo que a lista fique fechada). Portanto, o pastor bíblico é aquele chamado pelo Senhor da Igreja para ser, irmão entre irmãos, aquele que cuida de cada um na sua caminhada espiritual.

E neste mister é imperativo bíblico que ele seja sustentado pela comunidade que pastoreia.

Mas o sustento será somente financeiro? Uma leitura das cartas que Paulo escreveu sugere que não. Nelas transpira o cuidado de vários irmãos para com o apóstolo, cuidado nos detalhes da vida cotidiana e com as suas necessidades pessoais. Novamente, não me parece que as Escrituras queiram nos fornecer uma lista fechada de “itens obrigatórios para a igreja fornecer ao seu pastor”.

Dentro da metáfora do corpo, aquele que é chamado a exercer a função/ofício de pastor é um igual entre iguais com uma função específica. E este igual frequentemente nós transformamos em um “super”. Sua família é sempre perfeita, ele é sempre um bom e exemplar esposo e pai, não tem angústias existenciais (afinal, é pastor), muito menos dúvidas espirituais (afinal, é pastor); sua palavra é certa e infalível (afinal, é pastor), seu comportamento, imperativo bíblico, irretocável (afinal, é pastor).

Mas a realidade não é esta. Irmãos como nós, com as mesmas dificuldades e angústias, acrescidas de uma barreira que nós não temos: a máscara da perfeição que lhes impomos. Máscara que existe somente na nossa fantasia, e que deve ser trocada pelo rosto humano, real, carente de amizades verdadeiras e interesse desinteressado.

Que o Senhor da Igreja abençoe o Seu corpo.

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