domingo, 24 de julho de 2011

O inicio da vida humana e o status do embrião

Gottfried Brakemeier

Apesar das igrejas cristãs não terem uma opinião unânime sobre o "status do embrião" (e, à exceção da Católica Romana, não terem uma fonte dogmática final), conjuntamente afirmam que a vida é um dom de Deus. Ninguém existe por decisão dos pais, mas porque Ele é que dá origem à própria vida. O ser humano, na verdade, nada cria, mas compreende os mecanismos e os copia, não sendo a origem primordial de nada. "Apenas maneja, manipula".

Biblicamente a dignidade humana não nasce na sua condição como tal, mas é fruto de um dom divino. A dignidade não está vinculada ao grau de evolução biológica, ou à capacidade de intervir na natureza (para o bem e para o mal), mas simplesmente em virtude da eleição de Deus. E esta eleição visa o serviço no mundo, sob Suas orientações. E pelo relato bíblico, tal dignidade é anterior a qualquer atitude humana. Por extensão, o embrião humano também é revestido desta mesma dignidade.
Contudo, há divergências sobre o início da vida em si, que devem ser levadas em consideração.

Assumir que a vida humana se inicia completamente na fecundação exclui diversos determinantes óbvios: a necessidade do embrião ser recebido e implantado no útero e a da existência de um meio ambiente propício ao seu desenvolvimento e crescimento, o que incluiu laços interpessoais (uma "biosfera"). Definir a vida humana sem levar em consideração os relacionamentos sociais é ignorar a sua complexidade, reduzindo-a a meras expressões do genoma. Estariam mais próximos à verdade aqueles que defendem não ser possível definir o início da vida humana, sendo este, por definição, "indefinido"? E se assim o for, quais as repercussões práticas?

 A nidação, o momento no qual o ovo se fixa à parede uterina, é a primeira experiência de socialização e de acolhimento. A mãe acolhe aquele ser, e estabelece vínculos que progressivamente se tornarão mais complexos, com repercussões em toda a vida futura da pessoa. Também é a etapa final de um rigoroso processo seletivo, já que entre 40 e 70% dos zigotos não são acolhidos pelo útero. Este número impressiona quando se pensa em dar ao ovo o mesmo status moral de um ser humano já nascido. Se o óvulo fecundado, antes da nidação, é equivalente moral de um já nascido, tal estatística refletiria verdadeira catástrofe humana!

Mas não sendo moralmente equivalente ao ser humano plenamente desenvolvido, o zigoto permanece como semente que tem como alvo sua nidação e completo desenvolvimento. Este "ser humano que será" não é uma "coisa", um objeto, devendo ser tratado com respeito e reverência. E isto deve ser levado em conta na fertilização in vitro, no uso da pílula do dia seguinte, na clonagem, na busca por células tronco, dentre outras.

Ainda que a natureza não endosse a tese de que o direito à vida é absoluto (se assim o fosse, não existiriam embriões não implantados") este direito não pode ser negado, exceto quando confrontado com o direito à vida de outra pessoa (a mãe, no caso dos embriões).

A igreja luterana entende decisão ética como aquela que é tomada após avaliação cuidadosa dos argumentos favoráveis e desfavoráveis, dos prejuízos e dos benefícios, assim como para as consequências. "O critério passa a ser o conveniente, o adequado, o fruto de uma ação, a fim de que seja preferida a ação menos danosa

argumentação desenvolvida em "Bioética: avanços e dilemas numa ótica interdisciplinar - do inicio ao crepúsculo da vida: esperanças e temores, disponível em http://www.google.com/url?sa=X&q=http://books.google.com/books/about/Bio%25C3%25A9tica.html%3Fid%3DJfia0AD8dLkC&ct=ga&cad=CAcQAhgAIAEoBDAAOABAm5iU8QRIAVgAYgVwdC1CUg&cd=j6LBf3-Cu7w&usg=AFQjCNFV7a53eo2S95IbIP4bh9I6OE6hkA
resumo  e comentários adicionais de inteira responsabilidade deste blog - não revisado pelo autor do capítulo

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