domingo, 26 de dezembro de 2010

Está na hora de repensar o testemunho evangélico IV

Eduardo Ribeiro Mundim

Não importa qual é a igreja: poderia ser a minha, ou a sua.
A Folha de São Paulo de 26 de dezembro traz uma reportagem sobre a ação de uma comunidade cristã de Belo Horizonte nos presídios mineiros (caderno Cotidiano, pg C4). Todas as celas de uma prisão na cidade receberam uma TV LCD de 32 polegadas. Durante todo o dia todos os aparelhos instalados estão sintonizados na programação televisiva daquela igreja, disponível 24 horas por dia. Os presos não têm a opção de desligá-los - somente de reduzir o volume. O governo mineiro considera a experiência um sucesso (pela modificação do comportamento dos detentos), e pensa em estendê-lo às demais unidades. O diretor do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional, que é quem controla a programação, é membro da igreja.

Ideia genial? Proclamação do evangelho? Testemunho cristão? Estas são algumas das perguntas que o texto do repórter Rodrigo Vizeu levantaram para mim.

O articulista Helio Schwartsman levantou algumas objeções jurídicas:
1. a exposição compulsória a um programa de televisão único se configura em uma segunda pena a ser cumprida, não estabelecida pela justiça
2. a separação entre igreja e Estado proíbe que o poder público estabeleça alianças com igrejas (não importam quais sejam)
3. para que o princípio da impessoalidade seja respeitado, todas as demais crenças religiosas deveriam ser convidadas a participarem do programa
4. o serviço, sendo relevante para os interesses do Estado, deveria ter sido submetido a um processo licitatório.

Acredito nas boas intenções do diretor, mas questiono como um funcionário público graduado é desatento para as questões levantadas acima. Quais são suas credenciais para ocupar o posto?

Segundo o repórter, o diretor alega que os presos do CERESP ficam pouco tempo, pela própria missão daquela unidade, e que este é o tempo que tem para "plantar a semente". Qual semente?

Pergunto: onde está o mandamento bíblico para esta atitude? É isto o que o apóstolo Paulo quis dizer quando recomendou a Timóteo "prega a tempo e a fora de tempo" (II Tm 4.2). Evangelizar é obrigar as pessoas a ouvirem aquilo que não desejam ouvir? Evangelizar é impor, ou convencer?


Imagino se, como evangélicos, não invejamos os séculos durante os quais a Igreja Católica foi a religião oficial do Brasil (colônia e império); imagino se o poder consequente a esta posição não é por nós desejado; imagino se não confundimos mudanças de coração com imposição de hábitos e costumes.


Temos certeza do que significa evangelizar?


Até onde estamos dispostos a ir?

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